quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Cidade mal amada
As pessoas que gostam de Belo Horizonte gostam de si mesmas, da sua infância e da sua adolescência vividas na cidade, em lugares da cidade com os quais as identificam. Não há como gostar de Belo Horizonte, uma cidade sem memória, uma cidade que se destrói continuamente, uma cidade sem respeito pelo pedestre, uma cidade em que o luxo está escondido em shoppings, apartamentos e condomínios (que nem no seu território ficam), uma cidade cuja população rica vai morar nos arredores e se locomove usando caminhonetes superpossantes... Uma cidade construída com estilos arquitetônicos antigos do velho continente de gosto duvidoso, uma cidade que não cuidou da Pampulha, a única grande obra nela realizada. Uma cidade, obviamente, não vive sozinha, ela é obra dos seus donos, e os donos de Belo Horizonte, desde Aarão Reis, sãos os engenheiros, os construtores, os empreiteiros. Pessoas que tudo destroem a pretexto de construir, porque só assim ganham mais e mais dinheiro.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Otto e Nelson
"Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que de tão visto ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher. Isso exige (existe?) às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença."
(Otto Lara Resende, Vista cansada, apud Releituras.)
"Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."
(Nelson Rodrigues, apud Releituras.)
(Otto Lara Resende, Vista cansada, apud Releituras.)
"Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."
(Nelson Rodrigues, apud Releituras.)
Manifesto Belorizontem
Belo Horizonte (Belorizontem) em 1942: Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende discutindo com Juscelino Kubitschek num café (o boteco da época). Helena Antipoff influenciando Sabino e Resende. Juscelino trazendo Guignard, nosso Picasso, Gauguin e Van Gogh num só. Carlos Drummond de Andrade no Rio, trabalhando com Gustavo Capanema no Ministério da Educação (ou será que foi antes? Será que se afastou com o Estado Novo? Assunto interessante a pesquisar). Getúlio entregou a educação e a cultura do país aos mineiros, como recompensa pelo apoio de Antônio Carlos à Revolução de 30. Muito sensato. Getúlio deve ter entregado também a indústria aos paulistas (apesar de 32). E fez Volta Redonda no Rio. Foi preciso JK para Minas ter sua siderúrgica (Usiminas, que Collor privatizou. A Veja, paulista, se alevantou contra os protestos dos mineiros – e eu caí). JK fez também Pampulha e Brasília – foi buscar Niemeyer, Portinari, Burle Marx, o que tinha de mais moderno. Nunca mais BH fez nada tão bom. A Usiminas fez Ipatinga, copiando Brasília, mas achou que country life não dá pé, que bom mesmo é Ouro Preto. Belo Horizonte é uma Brasília sessenta anos antes, cheia de neoclassicismos e estupidez. Todas as três cidades sem alma. Como é que JK, nosso político mais inteligente, nascido na barroca Diamantina, não percebeu que cidades modernistas são bonitas de ver e ruins de viver? Como é que não percebeu que os prédios de Niemeyer são esculturas inabitáveis? As relações de ontem, todos nomes mortos, o mundo hoje é das mediocridades. Por isso também Belorizontem. Niemeyer fez cem anos, agora pode morrer, é o que todos esperam, mas ele não morre!
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