sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Moradores ausentes, serviçais presentes

Andando por ruas de um bairro de classe média alta de Belo Horizonte esta manhã, vi cenas interessantes. Faxineiras lavavam fachadas e passeios, porteiros aguavam canteiros, homens de macacão entregavam gás, empregadas passeavam com cachorros ou com bebês, pedreiros transportavam material de construção e entulho. Havia realmente muitas gentes nas portas, nos passeios, nas ruas, todas elas conversavam, todas elas trabalhadores ou prestadores de serviços, nenhuma moradora nos edifícios "de luxo" daquela rua. Os moradores, com certeza, estavam longe; homens e mulheres, pais e mães, donos e donas, nos seus carrões, pegaram o trânsito engarrafado e foram trabalhar em outra região da cidade, passar o dia fora, enfurnados em escritórios, lidando com clientes e chefes, olhos colados no computador, ouvidos colados no celular. Enquanto suas residências, suas coisas, seus cachorros e seus filhos estavam entregues aos cuidados dos serviçais – que por sua vez vêm de longe, de bairros da periferia, voltam de ônibus lotados, ficam presos em engarrafamentos durante horas antes de chegar em casa para descansar. Quem são os verdadeiros moradores dos bairros bacanas? Os proprietários, que não ficam lá, que mal se conhecem, que nem conversam com os vizinhos? Ou os trabalhadores, que vêm de longe, mas passam grande parte do seu tempo ali, convivem uns com os outros e sabem de tudo que acontece? É uma estranha cidade esta nossa, uma estranha sociedade.

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