Quando morávamos na Rua Corumbataí, o apartamento tinha uma varanda guardada por um portãozinho baixo, que fazia barulho estridente ao abrir-se. Ele indicava que alguém estava à nossa porta, porque era preciso transpô-lo para bater à porta ou fazer soar a campainha. Muitas vezes eram as meninas, que, nos momentos de brincadeira, entravam e saíam de casa sem parar. Eu estava sempre dizendo a elas: "Flora, fecha o portão", ou: "Marina, volta lá e fecha o portão". Marina, sempre mais rebelde, respondia que já ia voltar, provocando minha autoridade paterna: "Não importa, quando você sair, abre de novo".
Vigiando-as, eu chegava à janela do quarto, no segundo andar daquele sobrado, e olhava a rua, acompanhando suas brincadeiras com os coleguinhas das vizinhanças. Daí mesmo chamava sua atenção ou convocava-as para o almoço, o lanche, o banho. Da mesma forma, elas nos gritavam, olhando para a janela, quando queriam mudar a regra de estarem sempre ao alcance das nossas vistas. "Pai, posso ir à casa do seu Acir?", perguntava Flora. "Pai, vou à casa da Viviane", avisava Marina, completando, persuasiva: "É rapidinho".
Ainda hoje, às vezes, em momentos em que estou deitado, a ler, ou cochilando, ouço o barulho daquele portão e desperto, pensando: “Há alguém aí”. Não há, porque já não moro naquele apartamento há muitos anos, mas o simples ranger do portão, que permanece na minha memória, é capaz de reviver a rotina familiar daqueles dias.
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