segunda-feira, 23 de agosto de 2010

As pegadas, a margem, a integridade

Olho com curiosidade o que me interessa, o que gosto. O sucesso não significa nada, mas fazer o que te move. O dinheiro, o que a sociedade pede que você faça, o que os pais querem. Olha: no começo ele era subestimado, desprezado, incompreendido. A sociedade quer que todos sejam iguais, ela tem só um modelo para todos seguirem. Se alguns não resistissem, não haveria arte. Alguns ouvem um chamado diferente. Não é uma voz, não vem do céu nem de espíritos, é interior. Também não fala, se expressa em gostos, sentimentos, preferências. Me sinto bem assim, não quero isso. Sou falso assim, me sinto dividido assim. Sou eu, me sinto íntegro. Essa integridade, compreender, ouvir, aceitar esse apelo faz caminhar. Para onde? Não se sabe, é uma procura permanente, que vai deixando marcas pelo caminho. Marcas: criações, pegadas do andar, tentativas, experiências, obras sempre incompletas. Só quando se olha para trás é que se vê que aquilo que ainda não era foi alguma coisa. Apenas segurança para ser quem se é, é o preciso, é simples e difícil. Ser, fazer. O modelo de arte da sociedade não cria arte nem ciência, só negócios. O modelo que a sociedade tem é de negócio, e o aplica à arte. Ela não identifica a arte quando nasce. O primeiro disco foi um fracasso. O primeiro livro não conseguiu editora. O segundo, o terceiro, enquanto viveu. Histórias que ouvimos sempre. A sociedade só aceita a arte que é sucesso. Sucesso = dinheiro. As incompreendidas relações entre o caminho e a chegada, entre a água e a margem. A sociedade quer aquele que chega, aclama aquele que chega primeiro, comemora o que superou os outros. Nós também, porque fazemos parte dela. No entanto, não entramos na água para chegar à outra margem, não caminhamos para chegar ao fim do caminho. Nadamos porque precisamos de nadar, andamos porque gostamos do caminho. Não posso viver sem a água. A vida está no caminho, não na chegada.

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