sábado, 7 de agosto de 2010

A festa dos pobres e o lixo democrático
















Acabo de jogar no lixo uma embalagem plástica que envolvia uma revista distribuída gratuitamente e um saquinho de sopa, que veio com ela, como brinde. Este ato simples me incomoda. Para a minha geração, jogar as coisas no lixo, em vez de jogar no chão, é um hábito educado. Ainda hoje, me espanto ao ver pessoas que jogam lixo pela janela do carro, ponta de cigarro no chão, papel na rua. No entanto, a minha prática educada já não resolve o problema, por isso me incomoda tanto.

Não basta mais jogar o lixo na lixeira, como se tudo estivesse resolvido. Para onde vai o lixo? Cada vez produzimos mais lixo, lixos assim, inúteis, desnecessários, irresponsáveis, como uma embalagem plástica e uma sopa artificial. É tanto lixo que os passeios ficam lotados de lixeiras e sacos pretos o dia inteiro. Parecem bobagens, mas não são. Somado, dia após dia, o lixo produzido por milhões de consumidores nas grandes cidades forma um entulho gigantesco.

Dois fenômenos agravam o problema: 1) a população cresce; 2) povos e classes sociais pobres consomem artigos antes só acessíveis às classes ricas e médias.

Esta ascensão dos mais pobres é saudada como desenvolvimento. Faz sentido, é um avanço democrático abrir o portão da festa para os pobres, mas o lixo também aumenta, democraticamente. O que acontece com o mundo, enquanto os chineses se tornam americanos? O que acontece com o Brasil, enquanto a classe D vira C? É fácil perceber que os recursos naturais serão extintos muito mais rapidamente e produziremos quantidades astronômicas de lixo.

O desejo de consumir mais, assim como ignorar para onde vai o lixo que produzimos, é incompatível com a ascensão dos pobres, com sua participação na festa. Em outras épocas, ficávamos com as sobras dos ricos, agora que nos deixaram entrar, a comida não dá para todos. Depois da farra, os ricos curtiam a ressaca, enquanto os pobres eram convocados para limpar a bagunça. E agora, quem vai arrumar a casa?

As novas gerações, que nem participaram da festa, que nascerão no meio do lixo e da escassez, vão receber a conta. A festa dos pobres nunca será de luxo e desperdício como é a festa dos ricos.

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