Na adolescência, coisas típicas de europeus e de ricos, que eu via em romances e filmes, me encantavam. Provavelmente porque faziam contraste com a desordem e o improviso da minha vida pessoal, da minha família, da minha classe social, do brasileiro. A sucessão das estações e das mudanças que elas implicavam, já previstas e programadas em novas rotinas. A temporada de verão na praia ou na montanha, os rituais com a neve, as épocas certas para as atividades agrícolas, os horários de refeições, a temporada teatral e musical, a própria rotina escolar, com papéis, matérias, horários, fases e objetivos bem estabelecidos. Tudo isso me parecia bom, pela segurança que passava. Na literatura e no exterior, porque no Brasil da ditadura militar, tudo era uma bagunça, falso e autoritário.
Quando viajamos para a praia pela primeira vez, numa viagem improvisada, fora de época (inverno), por período curto (quinze dias) em casa alugada, tentei me imaginar numa rotina européia. Evidentemente não funcionou, mesmo porque, naquela época, eu era um marginal na família e não me envolvia nos programas dos meus irmãos, primos e adultos.
À nossa maneira, porém, percebo hoje, tínhamos nossa rotina. Ela incluía a grande família, isto é, parentes do meu pai e parentes da minha mãe, vizinhos, amigos, a casa, as festas (especialmente Natal, Dia de Reis e aniversário do papai, nossa festa junina, com fogueira, comidas quentes e música). Durante muitos anos, a partir de 1972, as quinzenas na praia, em janeiro e julho, foram passeios que incluíram primos e tios, alguns vizinhos e amigos da nossa geração.
Tudo isso se perdeu, de uma geração para outra: a casa e seu ambiente, o convívio com parentes e vizinhos, as festas, as viagens. Nossa família não tem mais uma casa; nos dispersamos em vários bairros e o velho bairro perdeu suas características hospitaleiras; os parentes não se visitam, os vizinhos não convivem; não damos festas nem viajamos em bando para a praia.
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