A indignação é o sentimento da classe média. Pobres estão muito ocupados em sobreviver, não têm tempo para se indignar. Ricos estão ocupados em corromper e manter o poder, têm tempo, mas encontram formas mais prazerosas de ocupá-lo do que se indignando. Uns e outros sabem como o sistema funciona. Só a classe média, confusa entre a imagem dos ricos, que querem ser, e a sensibilidade ao destino dos pobres, que querem ajudar, encontra tempo e condições para se indignar.
A indignação moralista da classe média é a própria expressão da contradição da sua classe. Uma classe que idealiza um mundo, mas vive em outro. Uma classe que tem folga no orçamento para comprar parte do que os ricos compram. Uma classe que vive em lugares menos deteriorados do que os pobres e sonham viver onde vivem os ricos. Uma classe que estuda, que escolhe profissão, que aprende a criticar e tem pretensões intelectuais. Uma classe que lê jornais, revistas e livros, que seleciona conteúdos na tevê.
A classe média acha que é a medida do mundo. Só ela tem essa pretensão: os ricos sabem que eles fazem o mundo, os pobres sabem que estão à margem do sistema. Só a classe média julga que pode moldar o mundo de acordo com suas ideias. E como o mundo se recusa a ser como ela quer, reage indignada.
Porque se informa e se indigna é que a classe média é presa fácil dos ricos e dos seus veículos de comunicação. Tudo que ela quer é que os de cima, os ricos, os bacanas, lhe deem um bom exemplo. Quando eles a convocam para a luta, a classe média está sempre pronta para transformar o mundo por um ideal.
A classe média acha que sabe das coisas, acha que os pobres são ingênuos e ignorantes, que estão sendo enganados por políticos inescrupulosos. Ela não percebe que ela é que é manipulada pelos ricos e seus veículos de comunicação. Movida por ideais e cruzadas, ela não compreende que os pobres são movidos pela sobrevivência e pelo coração.
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