terça-feira, 28 de setembro de 2010

Cordialidade e respeito

O que me impressiona cada vez mais neste mundo são as pessoas. O egoísmo, a estupidez, a ignorância, a mesquinharia, a cegueira para a realidade, a incapacidade de discutir ideias sem ofender, o desrespeito.

Em toda parte é isso. A gente chega num pronto socorro – moderno, particular. Constata que a administração está se esforçando para melhorá-lo: somos identificados ao entrar, um funcionário faz triagem e classifica a urgência do caso, mais urgentes são atendidos primeiro, fazemos a ficha por ordem de chegada, o preenchimento da ficha é padronizado, somos encaminhados para o consultório adequado, o médico nos atende por ordem de chegada e urgência, pede exames de rotina, se for o caso de medicação no local, ficamos num leito na enfermaria, os exames também são feitos por ordem de pedido e urgência, assim que ficam prontos são encaminhados para o médico, que faz o diagnóstico e receita. Todos (ou quase todos) nos tratam com simpatia.

No entanto, as pessoas lotam os prontos socorros. É isso que tumultua: gente que não precisa de atendimento de urgência e que não sabe se comportar; as pessoas acorrem ao pronto socorro porque sabem que lá serão atendidas, ainda que demore, mas uma consulta marcada pode demorar dias ou semanas.

Dá para ver pacientes que têm problemas crônicos e abusaram, porque já conhecem o hospital, talvez o médico e recorrem a eles, quando precisam.

Há outros tumultos provocados pelas pessoas: um acompanhante fica no corredor, atrapalhando o movimento e ainda faz cara ruim, se o enfermeiro esbarra nele; outro não dá lugar para um paciente sentar; uma paciente fica conversando e não ouve o médico chamá-la; outra reclama da atendente, mas não tem razão, é que não prestou atenção nas orientações; outro chega com muletas, amparado, alguém cede lugar para ele, ele atende um celular que chama com música sertaneja de mau gosto na maior altura e conversa mais alto ainda, esbarrando o cotovelo na criança que está do seu lado...

E por aí vai. As pessoas estão muito mal educadas, muito desrespeitosas, só veem seu umbigo. Raras são como uma velhinha que mudou de lugar para que eu sentasse do lado da minha filha.
É óbvio que o sistema de saúde precisa ser reformado, é claro que um bom pronto socorro tem que ser público e acessível a todos, sem necessidade de plano de saúde; precisa ser organizado e funcionar bem e rápido; precisa ter médicos, enfermeiros e funcionários suficientes para atender a demanda. Mas as pessoas também precisam mudar, melhorar.

A saúde privada, que dá lucro, é parte do sistema capitalista; essas pessoas egoístas e desrespeitosas também são parte do sistema, foram formadas por ele, funcionam de acordo com sua lógica individualista e competitiva. É preciso formar – e isso vem da infância – seres humanos melhores: cordiais, cooperativos, respeitosos.

Nenhum comentário: