Tem dia que eu acordo como cachorro que caiu do caminhão de mudança. Onde estou? O que vou fazer? A vida não pega no automático, não tenho vontade de levantar da cama, apenas coisas primárias são capazes de me mover: fazer xixi, fome, sede... E pensar. Minha consciência fica mais clara e ampla.
Não é novo, como (quase) tudo na minha vida, começou aos 17 anos. Aos 19 tomei um rumo errado, comecei a fazer coisas que não queria. Cometi um erro atrás do outro, porque não soube escolher meu caminho, não olhei para mim. Só comecei a interromper isso, bruscamente, aos 41 anos. Cometi novos erros, mas comecei a fazer o principal: me conhecer.
A vida é muito simples, a gente tem de ser o que a gente é. Para ser o que se é, a gente tem de se conhecer. São duas ou três coisas essenciais, coisas que nos movem, coisas que fazem parte da nossa personalidade, idiossincrasias. Se a gente identifica como a gente é, o que é importante pra nós, o que nos dá alegria, no que nos tira da cama de manhã cedo, a vida fica muito mais fácil.
A vida não tem nenhum paraíso nos esperando amanhã, não nos reserva nenhuma fortuna inesperada. A vida é um dia depois do outro, mas os dias podem ser bons, se a gente faz o que tem de fazer, o que quer fazer. Os dias se emendam, as semanas se emendas, os anos se emendam, e o simples passar do tempo, que nos envelhece, gera frutos, e liga hoje a ontem, como ligará hoje a amanhã.
E assim a vida passa, assim percorremos o tempo que nos foi dado nesta terra. Nós, que chegamos a este mundo sem saber nada, que nos tornamos gente porque somos recebidos com afeto e cuidado pelos nossos e que mais tarde temos de descobrir nossas razões para levantar da cama de manhã, mergulhamos de novo no mistério.
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