quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Representantes que não representam os eleitores

Quando a gente vê essa multidão de cavaletes com propaganda de candidatos em cima dos passeios, o que é que vem na cabeça?

Que são uma cambada de oportunistas que pedem o nosso voto porque precisam dele para se eleger, mas depois desaparecem e só se lembrarão de nós outra vez na próxima eleição. Eles não têm nada a ver com a gente, seus interesses são apenas pessoais, querem se eleger para obter benefícios para eles mesmos.

Que candidato eu conheço? Que candidato me conhece? Como é que ele pode me representar, se não sabe o que quero e o que penso? Como é que pode me representar se eu não sei quem ele é?

É assim a democracia representativa. Os candidatos pertencem a partidos, mas que são partidos? Numa eleição estão juntos, na outra são inimigos. Um político está num partido hoje, amanhã está em outro.

Se Serra e Dilma fossem candidatos avulsos, não faria a menor diferença: o candidato da direita e a candidata da esquerda.

O que decidimos é que presidente queremos, que governador queremos, que prefeito queremos.
No entanto, temos também de votar em senadores, deputados federais, deputados estaduais, vereadores.

Temos de escolher candidatos no mercado. Não o menor sentido. Esse é um tipo de democracia em que não há identidade entre o representado e o representante.

Muito mais razoável seria votar num partido. Cada partido em disputa forma a sua lista de candidatos, a gente vota no partido, a votação dá direito a número determinado de parlamentares, o partido indica seus representantes.

Que representantes serão esses não interessa, interessa que vão defender as propostas do partido, os mandatos pertencem ao partido, escolhido pelos eleitores.

Se o eleitor quer escolher o candidato, que entre no partido, participe da convenção e escolha a lista de candidatos; obterão os mandatos os mais votados, de acordo com o número de cadeiras obtidas na eleição.

Na campanha, em vez de se fazer propaganda de candidato, se faria propaganda das propostas do partido.

Para presidente, votaríamos no candidato do partido e no partido. Para governador, votaríamos no candidato do partido e no partido. Para prefeito, votaríamos no candidato do partido e no partido. Candidatos a prefeito, governador e presidente são os líderes do partido.

Como existem coligações, porém, o voto no partido é importante para distribuir o número de representantes dentro da coligação.

Este é um método muito mais razoável dentro desse sistema. Certamente é adotado em lugares em que a democracia representativa é mais evoluída.

Há outros sistemas. Comunidades, categorias profissionais, organizações diversas poderiam indicar seus candidatos. Em vez de políticos profissionais que compram votos no mercado, teríamos representantes legítimos de interesses coletivos específicos.

Numa cidade, isso é fácil de perceber. A população seria dividida pelo número de vereadores para se identificar quantos votos são necessários para se eleger um vereador. Assim, cada bairro, cada comunidade, cada região teriam direito a número determinado de representantes. A campanha seria feita ali, os eleitores conheceriam seus candidatos de perto e os candidatos conheceriam seus eleitores.

Enfim, não é por falta de métodos democráticos que a democracia representativa brasileira tem a péssima representação que tem.

Os eleitores não se lembram do candidato em que votaram e os candidatos só se lembram dos eleitores na época de eleição. Nesta, o que vale é o dinheiro disponível para a campanha – e de onde vem o dinheiro? De empresários e endinheirados, cujos interesses o parlamentar defenderá. Do eleitor, ele só quer o voto.

Forma-se um círculo vicioso que se completa com a falta de compromisso com os programas dos partidos, com negociatas para aprovar projetos, com o troca-troca de legendas. Tudo isso distante dos eleitores, que não acompanham o trabalho parlamentar do eleito.

Em outras palavras, esses parlamentares que elegeremos no próximo domingo não nos representam, não representam seus eleitores. Representam seus próprios interesses e os interesses daqueles que bancaram sua campanha.

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