sábado, 11 de setembro de 2010

Visita a um museu, alienação, conhecimento e educação democrática

Vejo na tevê matéria sobre o Museu do Ouro de Sabará e me pergunto que sentido tem a exposição daqueles objetos. É uma sensação que eu tinha quando era criança e a família ou a escola me levava a tais passeios. É uma sensação que o estudante tem frequentemente diante da matéria estudada. É a sensação, que hipertrofiada, mudou minha vida a partir dos 17 anos. A sensação de estranhamento, de olhar e não ver, de estar alheio ao ambiente, de não ser tocado por ele, de o mundo ao meu redor não ter sentido. Não pretendo ir tão longe agora, mas penso que isso vale para muitas coisas e também que tem soluções simples. A chave é expressar, ser ouvido por quem tem sensibilidade e conhecimento e, assim, superar aquele sentimento, que, guardado, inflama e se torna crônico, a ponto de se tornar a própria identidade pessoal. Foi o que aconteceu comigo – de tanto estranhar o mundo ao meu redor e não compartilhar tal sentimento, me tornei estranho eu mesmo.

Negar um museu é negar as gerações anteriores, que preservaram objetos da sua época e mais antigos, para que nós e as próximas gerações os pudéssemos conhecer. O mundo muda, contemporaneamente muda em velocidade alucinante. Os equipamentos com os quais trabalhei no jornalismo há menos de trinta anos já não são usados. O mais impressionante de tudo é que as tecnologias têm efeitos sobre nós, o que significa que nós também mudamos.

O cuidado de preservar objetos que entram em desuso e se tornam lixo tecnológico é, ao mesmo tempo, uma tentativa de eternizar a vida de quem o toma e um carinho com quem vem depois. Quem criou museu e preservou objetos antigos pensou em nós, que viemos depois, e na humanidade; seu objetivo foi mostrar que o presente evoluiu do passado, materializar informações que serão transmitidas em palavras, livros e, cada vez mais, pelo meio virtual da informática.

É assim, portanto, que o visitante deve encarar o museu pela primeira vez, como um cuidado de quem viveu antes dele com as gerações de hoje. Aqueles objetos expostos foram preservados porque, sem ter mais utilidade, seriam destruídos. Isto aponta um novo significado: a utilidade. O que muda o mundo é a utilidade, uma coisa que não tem mais serventia, uma tecnologia que foi superada por outra é abandonada e se torna lixo – de certa forma, a matéria do museu é o lixo.

A velocidade das mudanças no mundo contemporâneo, portanto, oferece matéria-prima abundante para museus. Será que existe essa preocupação? Será que os museus existentes estão guardando os objetos que se tornam obsoletos todos os dias? Onde existe um aparelho de telefoto, um telex ou mesmo uma lauda de redação de jornal, tão comuns até a década de 1980?

Seja como for, aqueles objetos expostos em museus e que não dizem nada a crianças e adolescentes, a não ser o abismo existente entre eles e os adultos, entre seu interesse e a educação, entre o presente e o passado, precisam ser compreendidos, em primeiro lugar como acervo de tralhas que entraram em desuso e que foram guardados para nos ajudar a conhecer o passado e compreender o presente. Aí entra a questão fundamental da educação: eu só conheço se quiser conhecer.

O conhecimento é ativo, não é passivo. Não se pode depositar conhecimento na inteligência de ninguém, muito menos de uma criança, que ainda está aprendendo a pensar. O que se consegue, eventualmente, é a memorização, mas a memorização é útil para alguns conhecimentos, não para todos. Além disso, o interesse varia de indivíduo para indivíduo, de forma que um assunto pode interessar a um e não interessar a outro. Como é que aqueles objetos expostos no museu podem ter significado, se o visitante não sabe nada do ciclo do ouro, de história do Brasil, de metalurgia e mineração, nem se interessou por isso?

A visita pedagógica a um museu deve ter como objetivo a formulação de perguntas. Como, aliás, em qualquer outra área de conhecimento. O conhecimento começa com perguntas, sem pergunta não há interesse, sem interesse não há conhecimento nem motivo para isso. Nenhum aluno deve ser obrigado a aprender o que não lhe interessa. A educação obrigatória é uma violência contra a criança, os currículos escolares são uma tortura institucionalizada.

O que não significa que não deva ser feita. Quero dizer que, como todo pai sabe, nem tudo se ensina de forma democrática. A relação entre pai e filho, entre educador e criança, muitas vezes é autoritária e precisa ser autoritária, porque são regras que precisam ser aprendidas para o bom funcionamento social e para sua própria formação. A criança não tem maturidade para decidir e impor-lhe esse peso é uma violência ainda maior.

O conhecimento, porém, é outra coisa, precisa ser estimulado, precisa ser prazeroso. O que o educador deve fazer é mostrar o mundo às crianças e adolescentes e motivá-los a fazer perguntas. A partir das perguntas, da busca de respostas, do diálogo, da consulta a livros e da observação de objetos é que eles alcançarão o conhecimento. Note-se: alcançarão o conhecimento. O conhecimento não é dado, não é recebido, passivamente, é apreendido, ativamente. E porque o conhecimento é ativo que a internet é um avanço em relação a outros meios audiovisuais.

Assim é que a visita a um museu deve ser um passeio, sem nenhuma obrigação de conhecimento. Há um conhecimento empírico, que se obtém com a prática, com a experiência, dia após dia, e há o conhecimento teórico. O que a escola fundamental propicia para as crianças é o conhecimento teórico, e faz isso na idade menos propícia para ele. É por isso que o modelo de escola prevalente na sociedade capitalista é tão ineficiente. Ineficiente, do ponto de vista do conhecimento; na verdade, a escola cumpre bem a função de adestrar os jovens para a submissão intelectual e comportamental exigida pela dominação de classe. Que interesse têm os donos do poder e das propriedades em ensinar as crianças a pensar e questionar a ordem que mantém sua riqueza e sua autoridade?

Por isso a disciplina de uma escola é ridícula, e ridícula porque autoritária. Ela continua tratando crianças de dez anos e adolescentes como se fossem bebês, continua impondo aos jovens uma ordem que eles mesmos podem criar.

Como assim? Eu não disse que o autoritarismo é necessário? É verdade, mas o autoritarismo da educação deve vir junto com afeto e compreensão. É o que os salesianos chamam de amorevolezza. O educador precisa ter autoridade e a criança precisa da autoridade do adulto; o educador que abre mão da sua autoridade está abrindo mão da educação, porque a criança precisa desse "pulso forte", que lhe dá segurança e lhe serve de exemplo. Isso, no entanto, vai diminuindo e mudando, à medida que a criança cresce. As regras que valem para os cinco anos são ridículas aos dez: se a criança não aprendeu o que tinha de aprender, tem alguma coisa errada, e foi na educação que recebeu quando era mais jovem.

Se a criança não tem maturidade para carregar o peso das decisões, isto não significa que não deva ser estimulada a isso. A criança aprende o que pratica e copia os exemplos que tem. Se é estimulada a pensar e decidir coletivamente, ela aprenderá a convivência democrática; se o adulto lhe dá tudo pronto e decide por ela, sem que ela tenha que pensar, ela aprende a obedecer e seguir a autoridade que "pensa" por ela.

Este é o conceito de autonomia, que faz parte da educação contemporânea. O educando não é um eterno incapaz nem tampouco deve ser adestrado para que se comporte como a ordem social exige. O objetivo da educação é formar seres humanos autônomos. O que significa isso? Significa que o aprendizado adquirido é o que possibilita às crianças e aos jovens, posteriormente aos adultos, serem capazes de pensar e agir por conta própria, sem necessidade de ordens superiores nem obediência inconteste. É, portanto, o contrário da educação burguesa.

Para formar indivíduos autônomos, a educação precisa ser significativa, isto é, o que se aprende precisa ter significado para quem aprende. Mesmo quando a regra é imposta, deve vir acompanhada de explicação e precisa ser demonstrada com exemplo. Isto quer dizer que o que vale para um vale para todos e, principalmente, que quem ensina pratica o que ensina. O melhor ensino é o exemplo, todos os educadores sabem disso.

Não é fácil, mesmo porque essa educação é feita e experimentada por quem foi educado de forma autoritária. Ela provoca alguma tensão, exige envolvimento e reflexão permanente, exige qualidades pessoais do educador, é mal compreendida por quem está acostumado com o autoritarismo, precisa ser "construída" em problemas que surgem na prática, dia após dia.

Não são, porém, essas dificuldades que impedem que ela seja praticada de forma predominante. Os resultados da educação para autonomia são muito compensadores, quem a emprega não volta à educação tradicional. Se ela não é praticada amplamente é porque a autonomia é adequada a uma sociedade democrática e igualitária, não a uma sociedade cuja existência depende da desigualdade e do autoritarismo.

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