E vi os absurdos do transporte ferroviário no Brasil
Seria um escândalo, se esta palavra não estivesse tão desgastada. Viajar de trem no Brasil é constatar uma sucessão de absurdos. A viagem é deliciosa, barata, segura. Não tem engarrafamento, chega-se direto no centro da cidade. Tinha tudo para ser ótima, no entanto...
Para começar, por que a estação ferroviária não tem trens saindo para todo lado, como na rodoviária e nos aeroportos? Não, Belo Horizonte tem um único trem diário, que sai para Cariacica (deveria ser Vitória, já que a própria estrada se chama Vitória a Minas), às 7h30.
A volta é outro absurdo: o trem chega com atraso de 50 minutos!
No caminho, estações desativadas. Descemos numa estação no meio do nada; a EFVM fechou a estação na cidade e abriu outra perto do rodovia.
Obviamente não fez isso para beneficiar os passageiros. Estes, às dezenas, têm de se valer de táxi, ou seja, o dinheiro economizado no trem é gasto no táxi; o ônibus que vai da cidade à estação não espera o trem chegar para levar quem desembarca.
A estação é acanhada, sem plataforma, o embarque e o desembarque são feitos na própria linha, funcionários põem escadinhas para que possamos subir e descer. E mais: não vende passagens! Quem não compra na cidade, no horário determinado, tem que comprar dentro do trem, se tiver. E a passagem só é vendida em um vagão.
A (não) Vale (nada) faz questão de demonstrar que não tem o menor interesse na linha e que não tem a menor consideração pelos passageiros. Só mantém o trem porque foi obrigada, na privatização.
A linha deve dar lucro, é só calcular: 11 vagões levando mais de 74 passageiros cada um, são mais de 800 pessoas em cada viagem, fora os que descem e sobem no caminho. A viagem final custa R$ 75 na classe executiva, R$ 50, na classe econômica. São três vagões na executiva (222 x R$ 75 = R$ 16.650) e oito na economica (592 x R$ 50 = R$ 29.600), perfazendo R$ 46.250.
Nada comparado, porém, com o que a multinacional ganha fazendo crateras no solo mineiro e exportando minério pagando impostos mínimos.
Se a empresa não é de transporte de passageiros nem se interessa por isso, por que então está no ramo? Coisa do governo FHC.
O trem está caindo aos pedaços, dá a impressão de que poltronas não recebem manutenção há décadas.
Para completar, quando se chega a BH, não há táxis no ponto da estação, muito menos linha de ônibus.
Enfim, é tudo feito para que o brasileiro não queira viajar de trem. No entanto, as pessoas, principalmente as mais pobres, teimam em usar esse transporte, gostam dele e, o que não se deve desconsiderar, economizam usando-o.
E o Brasil, que é um país continental, que construiu as primeiras ferrovias no reinado de Pedro II, desativou quase todas, os governos neoliberais sucatearam e privatizaram as linhas que restavam, e elas ficaram apenas para transporte de carga.
Mesmo agora, quando o governo Lula constrói e inaugura ferrovias como a Norte-Sul, a ênfase é dada no "escoamento da produção".
Para o capital e seus governos, gente não tem importância.
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