terça-feira, 28 de setembro de 2010

Um país profundamente antidemocrático

Este é um país profundamente antidemocrático.

A antidemocracia está nos meios de comunicação. Tevês e rádios são concessões públicas controladas por algumas famílias e por políticos, os cidadãos e as organizações sociais não têm acesso a elas, não podem se expressar, não podem produzir informações e conteúdos. Os jornais e revistas são grandes empresas que se beneficiam de publicidade oficial, pertencem aos mesmos poucos grupos, que monopolizam a informação e publicam o que querem.

A antidemocracia está no transporte. O dinheiro público é investido em construção de estradas, viadutos, pontes, túneis, elevados, duplicações, recuperação e melhoramento de pistas para uso de carros particulares. O transporte coletivo não merece atenção, não recebe recursos, não tem qualidade e é caro. O sistema de ônibus urbano é absurdo de tão ineficiente. Metrôs não são construídos. Não há ferrovias para transporte de passageiros. Só o que interessa ao sistema é produzir e vender carros sofisticadíssimos e caríssimos para realçar a riqueza de alguns e a desigualdade social.

A antidemocracia está na terra. Os latifúndios de grandes empresas que se dedicam à monocultura e à criação extensiva de exportação monopolizam o campo. Eles expulsam os pequenos, as famílias, os pobres que produzem para a subsistência e de forma diversificada. Derrubam matas, contaminam rios, secam nascentes, destroem biomais, extinguem espécies animais e vegetais.

A antidemocracia está na saúde. Os melhores tratamentos, os equipamentos mais modernos, os medicamentos de última geração, as melhores instalações hospitalares e profissionais mais competentes estão à disposição daqueles que podem pagar. Os planos de saúde predominam, pagamos a empresas privadas por serviços que deveriam ser prestados pelo Estado, que para isso cobra impostos. Os hospitais públicos são lotados, mal equipados, pagam mal aos seus funcionários, têm filas que levam à morte. Para o pobre é difícil uma consulta, um tratamento, a compra de um remédio.

A antidemocracia está na educação. A escola fundamental pública de péssima qualidade atende o pobre. As instalações são péssimas, tem aluno demais, os professores ganham mal, a violência é uma ameaça permanente. Quando ele termina o segundo grau, não passa no vestibular da universidade pública, boa e gratuita, tem que estudar na universidade particular, cara e ruim. O rico estuda em escola fundamental particular, que é boa, e passa no vestiular da universidade pública.

A antidemocracia está no serviço público. O cidadão não tem acesso à justiça, o legislativo faz leis para beneficiar lobbies, o atendimento nas repartições é moroso para quem não paga propina. Pagamos impostos e não temos serviços, o dinheiro dos impostos é direcionado para pagamento de empreiteiras e compra de materiais de grande empresas, com caixa dois para os políticos.

A antidemocracia está na democracia representativa. De quatro em quatro anos elegemos vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, presidente. É o único momento em que eles dependem de nós, o único momento em que nos procuram. Prometem, falam conosco, nos tratam bem. Depois de eleitos, somem. Vão cuidar da sua vida, de trabalhar para os lobbies, de desviarem recursos públicos para seus bolsos, ainda que sejam recursos lícitos, mas muito maiores do que qualquer eleitor ganha. Além dessa diferença financeira, a distância entre o político e o cidadão é que este não detém mais nenhum poder, a não ser o do voto periódico. Não é chamado a participar do governo, a opinar, a dizer o que quer, o que pensa, o que considera mais importante; não dá ideias, não decide as políticas que deveriam ser feitas para ele. Na democracia representativa, o cidadão não conta.

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