Na reta final da eleição presidencial que pode tornar a candidata do PT, Dilma Rousseff, a mulher mais poderosa do mundo, é hora de se começar a discutir o significado não do governo, mas da oposição que se forma no Brasil. O editorial do Estadão lembra as vésperas do golpe de 1964 e o golpe que derrubou o presidente da Venezuela Hugo Chávez, por algumas horas, em 2002.
A história ensina que não se deve menosprezar a direita golpista. Sem ter líderes de massa e muito menos massas populares (exceto, em parte, no fascismo e no nazismo), ela mobiliza camadas médias da sociedade. Seu discurso é a indignação moralista, seu instrumento são os veículos de comunicação cujo controle detém.
O presidente João Goulart foi deposto em 64 por um golpe militar com participação de políticos civis, entre eles o governador mineiro Magalhãe Pinto. O pré-golpe foi marcado por campanha na imprensa e mobilizações da classe média pela igreja. O golpe contra Chávez foi desferido por um batalhão palaciano apoiado por intensa campanha de emissoras de televisão, rádio e jornais de direita.
O que exaspera a direita é seu afastamento do poder. Não nos enganemos: o governo Lula não foi ruim para os capitalistas. Banqueiros enriqueceram ainda mais, a economia cresceu gerando lucros paras as empresas. A diferença em relação a governos anteriores é que Lula fez também pelos pobres, distribuiu renda. Diferença maior é que afastou do poder as velhas hierarquias acostumadas a aparelhar o Estado, por isso elas gritam. Essa gente se alimenta do poder, fora dele definha e morre; eles estão lutando contra a morte.
A eleição de Dilma Rousseff significa que essa gente continuará fora do poder por mais quatro anos. Na próxima eleição, talvez esteja tão fraca que não consiga sequer lançar candidato, por isso luta com todas as forças moribundas, hoje.
Articula-se também uma nova oposição, mais moderada, que convive com a direita do petismo e até surfa no lulismo. Uma oposição mais civilizada, que não compartilha os interesses da mídia golpista ou até compete com ela.
O clima que a direita tenta criar para o golpe é uma farsa: sem militares, sem crise econômica, sem massa de manobra – a classe média fascistóide é pequena e incapaz de influenciar os mais pobres.
O poder de fogo da velha mídia, porém, ainda é considerável, o poder de repetir mentiras até se tornarem verdades.
Hoje, as condições objetivas lhes são desfavoráveis, para que não mudem, Dilma terá de manter a economia funcionando bem e crescendo. É certo que verá a campanha difamatória crescer, quanto mais bem-sucedida for.
À esquerda, espera-se que cresça uma oposição ambientalista, liderada por Marina Silva. Os problemas ambientais são cada vez maiores e a economia não pode mais andar separada da conservação e da recuperação ambiental.
O mais importante para o país será prosseguir na construção de uma ordem democrática que suporte governos populares e resista a novas tentativas de golpe como o de 64.
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