quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lula e a educação

Os números estão no Blog do Planalto e são impressionantes. O Brasil tem hoje 284 escolas técnicas em funcionamento, das quais 141 – praticamente a metade – foram inauguradas no governo Lula. Até o final deste ano, o governo promete entregar mais 99, o que elevará o total a 383, das quais 240 – ou seja, 60% delas – feitas pelo presidente atual. Além disso, mais 50 estarão prontas em 2011.

Antes de Lula, o presidente que inaugurou mais escolas técnicas foi Nilo Peçanha, também o primeiro; ele entregou 21, em 1909 e 1910. Nos governos seguintes foram pingando escolas técnicas país afora. Itamar Franco se destaca: inaugurou 27. Getúlio, Dutra, Sarney e FHC inauguraram mais de 10 cada um. Nenhum deles se compara nem de longe, nem de muito longe, ao presidente operário, semianalfabeto.

Precisaria de mais informações para compreender melhor esse fenômeno das escolas técnicas no governo Lula. Serão escolas como o Cefet-MG? Ou escolas do tipo Senai? Como funcionam? São independentes ou ligadas ao Sistema da Confederação Nacional da Indústria? Qual a qualidade das suas instalações e dos seus professores? A exposição do governo relaciona 29 escolas técnicas ligadas a universidades federais, criadas por todos os governos, três delas seriam na UFMG; no entanto, pelo que eu sei, na UFMG só existe o Coltec. A exposição, infelizmente, não lista as escolas por nome, só por localização.

De qualquer forma, é um fenômeno. Como o governo Lula não é um governo picareta, que faz obras no atacado para beneficiar empreiteiras, superafaturar orçamentos e distribuir comissões para políticos corruptos, como é comum no Brasil e de praxe em Minas, imagino que seja realmente uma revolução no ensino técnico brasileiro, cujos resultados veremos nos próximos anos.

Imagino também a origem desse fenômeno: Lula estudou numa escola do Senai e não se cansa de citar o fato, com gratidão. Foi a oportunidade que mudou sua vida, dali saiu torneiro mecânico, foi trabalhar em fábrica, acabou no sindicato, onde começou a carreira política que o levou à Presiência da República. Lula quer dar à juventude brasileira a mesma oportunidade que ele teve.

É assim que Lula vê a educação, como uma boa escola técnica que oferece ao adolescente uma profissão, uma qualificação para o mercado de trabalho, uma vida segura. É uma visão capitalista avançada, como tudo no governo Lula: seu impacto é porque os capitalistas brasileiros são incapazes de fazer o que é melhor para o capitalismo, foi preciso um operário presidente para mostrar a eles. Lula é o melhor presidente capitalista que o Brasil já teve.

O governo Lula é o melhor governo na educação, mas seu foco está errado. A prioridade no Brasil é a educação fundamental. O capitalismo precisa de técnicos, mas os brasileiros precisam de escolas públicas de qualidade em tempo integral, ocupando espaços privilegiados nas cidades, com os melhores (e bem pagos) educadores, os melhores equipamentos, alimentação, médico, esportes, artes, ofícios.

Da mesma forma que temos de cuidar do ambiente para que nossos filhos e netos ainda tenham água, ar, árvores, natureza, precisamos preparar as gerações do futuro para que cuidem do mundo como nós e as gerações anteriores não cuidamos. E olha que a educação que tivemos era melhor do que a educação que a escola pública atual dá às crianças. Nós tínhamos família estruturada, casa, irmãos, colegas para brincar, vizinhança; a família cada vez mais comum hoje não tem pai, tem só um filho ou dois, mora em apartamento, a mãe trabalha fora, a criança é educada pela tevê, pela internet, pela babá, pela avó, se alimenta mal, não sai na rua...

Não vale o argumento de que o ensino fundamental é responsabilidade dos municípios. Como o próprio Lula diz, quando ele quis fazer alguma coisa convocou estados e municípios e fez. Falta um plano nacional de educação pública de qualidade para os próximos vinte anos, começando pelo ensino fundamental, por uma nova escola adequada aos novos tempos. Dilma também não pensa nisso. Só Marina tem visão de longo prazo e global.

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