Eu não ia tocar no assunto, mas já que você falou... A eleição. Você sabe que penso completamente diferente de você, mas não vou tentar te convencer. Estou impressionado com a quantidade de amigos ou conhecidos que não votaram na Dilma no primeiro turno.
Eu votei, diferentemente de 2006. Em 2006, eu votei no Cristovam Buarque, no primeiro turno, pela ênfase que sua campanha deu à educação. De lá pra cá li muito, acompanhei as coisas pela internet, descobri essa revolução na informação que é a web. Vi como a chamada "grande imprensa" manipula as informações. Não que eu não soubesse, mas pensava que as denúncias tinham um fundo de verdade, e que o PT era igual aos outros partidos, que Lula tinha traído seus eleitores.
Este ano vi tudo se repetindo, mas vi com outros olhos. Vi como são grotescas as mentiras, as notícias fabricadas, os exageros, a manipulação de informações.
Globo, Folha, Estadão e Veja inventam descaradamente porque estão a serviço do Serra e querem elegê-lo, custe o que custar. Este ano confessaram isso várias vezes. Só que não dizem isso no noticiário, dizem em editoriais que ninguém lê e seminários aos quais ninguém vai. Mas estão ao alcance de quem se informa pela nova mídia, pela web.
A velha mídia representa o que há de pior e de mais reacionário no Brasil. Repete as mesmas campanhas que levaram ao golpe de 1964 e a 21 anos de ditadura. Qualquer pessoa razoavelmente informada hoje sabe que o governo Lula foi mil vezes melhor, em tudo, em qualquer área que se compare, do que o governo FHC. O governo Dilma não vai ser igual, ela não é Lula, mas quem sabe não vai ser melhor?
Lula me surpreendeu. Ele entrou para a história do Brasil e prevejo que esses últimos anos serão lembrados como uma "era de ouro", um período de progresso e liberdade, como nos lembramos até hoje dos anos JK. Principalmente (toc toc toc) se as coisas piorarem, como pioraram depois de JK.
Acho que a melhor comparação dessa eleição é aquele programa de televisão em que o sujeito fica numa cabina sem ver nem ouvir nada e tem que responder à pergunta: você troca isso por aquilo? E o cara vai trocando às cegas, às vezes troca uma casa por um par de sapatos furados. Se o Brasil elegesse Serra seria mais ou menos isso.
Um possível governo Serra, se for igual ao governo FHC, de quem ele é pupilo, seria péssimo. Se fosse um governo como ele fez em SP (todo mundo que convive com ele diz que é um sujeito autoritário, arrogante), será uma volta ao moribundo neoliberalismo.
Se Serra fossse eleito e fizesse o que muitos temem que faça (destruir tudo o que o governo Lula fez, aprovar uma emenda constitucional para impedir que Lula possa ser eleito em 2014, censurar a internet etc., liquidar os programas sociais que considera esmola e vício de vagabundos), aí seria mesmo um retrocesso similar ao que aconteceu no país nos anos da ditadura militar.
Serra é um cara em quem não se pode confiar, porque é capaz de falar qualquer mentira para ganhar voto. Em 2004 jurou que se fosse eleito prefeito de São Paulo não disputaria a eleição para governador, dois anos depois. Disputou. Este ano está fazendo promessas que não vai cumprir, como aumentar o salário mínimo e ampliar o Bolsa-Família. São os próprios tucanos que estão espantados com isso.
Espero que Dilma seja eleita. Sei que tem uma classe média que ainda acredita em Globo, Folha, Estadão, Estadinho, Veja. Em BH, como demonstrou a vitória da Marina no primeiro turno, essa classe média é forte. O eleitorado da capital procura um novo rumo, depois que o ex-prefeito Pimentel jogou fora 16 anos de construção de um governo democrático e social, ao apoiar a candidatura de um empresário milionário indicado pelo governador Aécio Neves.
Essa classe média, da qual faço parte, é moralista, tem horror a escândalos, e é isso que a "grande imprensa" explora. Só que os escândalos dos seus políticos essa imprensa esconde. Aécio passou oito anos censurando a imprensa mineira, nenhuma denúncia contra ele foi publicada. Será por que ele e todos os seus são os governantes mais honestos do mundo? Não acredito. Se a imprensa fosse contra ele, teria denúncia todo dia, como tem contra o governo Lula, como tinha contra o ex-governador Newton Cardoso.
Corrupção não é minha referência, porque todo governo tem. Pra gente saber que governo é mais ou menos corrupto, precisava de imprensa independente – o que não temos – investigando igualmente todos os governos – o que não acontece. E tinha de ter parlamentares sérios e honestos, tinha de ter judiciário imparcial, o que também não é a regra.
Minha referência é o que o governo fez. Deixando de lado o crescimento da economia, o sucesso da Petrobrás, os êxitos em cada área, a elevação da autoestima nacional e o reconhecimento internacional do presidente Lula, o que eu vejo é que a vida do povo melhorou. Tem mais emprego, milhões deixaram de ser miseráveis, milhões estão ganhando melhor. Não é à toa que o governo Lula tem aprovação de mais de 80% e só 4% dizem não gostar dele.
Grande parte dessa população beneficiada pelo governo Lula não votou no primeiro turno. A abstenção, os votos nulos e brancos foram muito altos, principalmente no Norte e no Nordeste. Acredito que no segundo turno essa gente votará em Dilma, mesmo porque a votação é simples, entre dois números, não é como no primeiro turno, um punhado de escolhas que intimidam os mais humildes e menos afeitos à tecnologia. Acho que esses brasileiros, que constituem a maioria, não vão querer trocar o que está bom para eles por um punhado de promessas vindas de gente que eles conhecem de outros carnavais.
Mas não me iludo: depois que Dilma for eleita, a guerra vai continuar, os reacionários e sua imprensa vão continuar com seu denuncismo, vão tentar impeachment, vão tentar dar golpe militar, vão fazer de tudo para prejudicar seu governo, vão fazer chantagens com a nova presidente. Essa gente não aceita perder o poder, não aceita ver o povo mais feliz, com a vida melhor. Embora se autodenominem democratas, isso é o que não são. Freud explica. Mesmo ganhando muito, eles querem mais, eles querem tudo, toda riqueza e todo poder, como tinham na ditadura e no governo FHC.
Outro dia, no facebook, um jornalista que critica Dilma, argumentou que não tinha de escolher um lado na eleição, que política não é Fla-Flu. Realmente, política não é Fla-Flu, porque no futebol a gente não escolhe time, a gente é escolhido, desde pequeno; quando vê, já tem um time de coração. Mesmo que ele perca, vá pra segunda divisão, pra terceira, a gente sempre acha que é o melhor time do mundo. Meu amigo de infância americano continua indo a todos os jogos do seu time, torcendo para que ele volte à primeira divisão. Eu estou aqui sofrendo pelo meu Galo, feliz porque agora está demonstrando raça, ainda que seja quase um milagre escapar do rebaixamento, mas, como disse um alvinegro famoso, o atleticano torce contra o vento no meio da tempestade. Se o clube escapar, a paixão vai aumentar. Futebol é assim.
Política é diferente, é na política que a gente tem sempre de escolher um lado. Às vezes escolhe com o coração, às vezes escolhe com a razão. Melhor é quando coração e razão se juntam. Ruim é fechar o coração e não deixar a razão funcionar, porque um lado vai vencer – com nosso apoio, contra ele, ou com a nossa indiferença.
Na eleição deste ano, a gente tem de escolher entre a continuação provável de um governo do primeiro presidente que veio do povo e não traiu sua origem e a volta daqueles que sempre tiveram compromissos com os empresários, com os mais reacionários, com as multinacionais e até com a ditadura militar. Meu voto não vai decidir a eleição, mas me deixa em paz com a minha consciência, que é o máximo que eu posso fazer.
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