terça-feira, 12 de outubro de 2010

Os jovens jornalistas e o mau jornalismo

Jornalismo é uma profissão de gente jovem. Todos do ramo sabem disso, mas a maioria que não é ignora. Como tudo na vida, não é assim por acaso: esta situação não pode ser um mal para o negócio jornalismo, ao contrário, podemos supor que é um bem, que de alguma forma a juventude dos jornalistas colabora para o êxito das empresas de comunicação. É assim desde que entrei na faculdade e os coleguinhas mais velhos comentavam: jornalista não para na reportagem, depois de alguns anos ou assume um cargo de chefia ou arranja emprego numa assessoria.

Tal previsão é broxante para o jovem atraído para o jornalismo justamente pelo desejo de fazer reportagem. A reportagem é o coração do jornalismo, é muito mais fácil ser editor, redator ou pauteiro. Jornais são feitos por repórteres, bons repórteres garantem bom jornalismo. São mais raros do que se imagina. Mas uma equipe bem treinada e experiente também aguenta as pontas. O problema é que não dá tempo; se o bom repórter logo desaparece, o bem treinado também não dura muito, o experiente nem chega a existir.

Por que é assim? Em primeiro lugar, porque os salários pagos pelas empresas aos repórteres, ao contrário do pensa o vulgo, são baixos – ou muito baixos, se considerarmos os salários pagos por assessorias e alguns órgãos públicos. Trabalha-se muito, os horários são malucos, mas isso não chega a prejudicar: nunca conheci um repórter que não gostasse do seu ritmo corrido que o leva a conhecer gente e lugares, levar o cotidiano sem rotina, viajar. Reclama-se, é verdade, mas ninguém larga o osso, exceto por insatisfação profissional.

A insatisfação profissional não vem só da má remuneração, razoável para um jovem, mas insuficiente à medida que a vida passa, as responsabilidades e despesas aumentam. Vem também da pauta ruim, da manipulação da informação pelos chefes e patrões, da impossibilidade de tratar de temas considerados relevantes e tocar pautas próprias. O treinamento do repórter é acelerado, em seis meses de redação já se fez de tudo, já se aprendeu tudo que se tinha pra aprender; um jornalista com cinco anos de reportagem é um veterano, e quando se chega nesse ponto, a gente quer mais do que simplesmente cumprir pautas imbecis e repetitivas.

O fato é que os baixos salários e a insatisfação com a qualidade da informação que se produz tira os melhores repórteres das ruas, justamente quando sua experiência possibilita que ele seja um profissional melhor. O resultado é o baixo nível do jornalismo. Não se pode dizer mesmo que isso desgoste patrões e políticos: jovens repórteres inexperientes são manipulados com mais facilidade, são mais submissos, se impressionam com o teatro permanente dos poderosos, que são, enfim, aqueles que estão todos os dias no noticiário.

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