quarta-feira, 13 de outubro de 2010

'O cara': 'Sim, nós podemos'

Ao terminar seu governo, Lula passará a ocupar no imaginário nacional o seleto lugar reservado apenas a duas outras personalidades históricas: a princesa Isabel, libertadora dos escravos, e o presidente Getúlio Vargas, que elevou o trabalhador à condição de cidadão.

O grande feito de Lula não é uma obra, não é o sucesso num determinado setor, não é um grande feito. Não é o pré-sal, não é o PAC, não foi controlar a marolinha. Também não é a expansão do crédito, nem a expansão do consumo, nem a ascensão da classe D para a classe C.

O grande feito de Lula é o conjunto da obra, é não ter fracassado, ao contrário: ter governado melhor do que seu antecessores. Ele sabe disso, é bate nessa tecla há mais de um ano.

O grande feito de Lula é simbólico. É ter demonstrado que um ex-metalúrgico, um semianalfabeto, um retirante nordestino, um homem do povo, pode governar tão bem ou melhor do que os bacanas, os ricos, os doutores. Ao fazer isso, Lula promoveu a igualdade neste país, como só foi feito antes por Getúlio Vargas e pela princesa Isabel.

Isabel, como princesa regente, enquanto seu pai viajava pela Europa, assinou a lei que aboliu a escravidão, em 1888. Pagou com a queda da monarquia, num golpe militar, um ano e meio depois.

Os escravos libertos mantiveram-se como brasileiros de segunda categoria até a Revolução de 1930, que levou Getúlio ao poder.

Getúlio promoveu o trabalhador à condição de cidadão, criando a legislação trabalhista, o sistema de amparo ao trabalhador, o partido trabalhista (PTB), pelo qual se elegeu presidente, em 1950. Pagou com a própria vida.

Getúlio e Isabel eram da elite. O povo saiu da senzala, ganhou as ruas, ganhou o direito de votar, mas manteve uma gratidão reverenciosa aos seus benfeitores. Isabel se tornou uma santa, Getúlio, um mártir.

Lula é um trabalhador, veio do povo, fala como o povo, é igual o povo. Ao dar o exemplo de competência, Lula promoveu a democracia como nenhum presidente antes dele.

"Somos todos iguais, um trabalhador pode ser tão bom quanto um doutor", disse Lula, com seu exemplo. E enfatizou com palavras.

"Qualquer brasileiro pode governar, não é preciso ser rico, não é preciso ser doutor, não é preciso ser bacana", demonstrou Lula.

"Não somos inferiores, não precisamos mais chamar ninguém de 'doutor', nem abaixar a cabeça, submissos."

"O que o povo precisa é de ser tratado com respeito. O que o trabalhador precisa é de oportunidades para mostrar seu valor. O que o brasileiro precisa é de uma sociedade democrática."

Obama disse que Lula é "o cara". Lula disse ao povo: "sim, nós podemos". Este é o seu legado. Deixa o governo aclamado, sem golpe, vivo. Entra direto para a História.

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