domingo, 3 de outubro de 2010
Os ricos na revista Espelho
Na revista, páginas e páginas de fotos de eventos. São os ricos, os que mandam no poder, os que enchem as ruas de carrões engarrafando o trânsito, os que constroem e compram prédios que transformam a cidade numa selva de concreto. São aqueles para quem a cidade é feita, aqueles que frequentam o prefeito, os vereadores, os deputados, o governador, os desembargadores, os juízes, os secretários. Eles são gordos, têm o rosto marcado por plásticas, usam penteados modernos, vestem roupas e calçados de marca, relógios e joias caríssimos. Viajam para o exterior, têm fazenda, apartamento na praia, andam de lancha, criam cavalos. Todos expressam o mesmo sorriso padrão para as lentes dos fotógrafos. Vivem numa alegria cativante: como a vida é boa! Tomam drogas: cocaína, crack, álcool, nicotina, remédios, maconha. Seus filhos também usam. Eles não têm tempo para os filhos, mas seus filhos têm babás, motoristas, guarda-costas, psicólogas; frequentam escolas caríssimas, fazem inglês, italiano, espanhol, musculação, natação, judô, futebol, balé, ioga, teatro, canto, música... A revista é feita para eles, para retratá-los e oferecer-lhes leitura. Eles olham e se veem, como no espelho. São preconceituosos e reacionários, votam nos demotucanos, pertencem aos 4% que não gostam do governo Lula, muitos têm saudade da ditadura militar. Têm muito, mas querem tudo. Acham que os pobres devem viver das suas esmolas particulares, que o Estado não tem se meter em ações sociais, porque elas geram corrupção. Eles odeiam o Estado, acham que pagam impostos demais, que o Estado toma dinheiro que eles ganharam e que usariam muito melhor, "movimentando a economia" e fazendo caridade eles mesmos. Para eles, trabalhadores são pessoas inferiores, gente que faz qualquer coisa para ganhar um salário – embora alguns sejam "honestos" (eles admiram a honestidade dos pobres), tenham "bom coração" (eles se confortam com subalternos fiéis) e tenham até a "sabedoria da gente simples" (em outra vida aquela mulher simples deve ter sido uma pessoa especial). Julgam que os ajudam muito lhes dando emprego, possibilitando que tenham renda e sobrevivam, e se consideram muito bons por isso. Não veem que toda riqueza que possuem é produzida pelo trabalho daqueles a quem compensam com o salário mínimo. Jamais questionam se nascer rico e ter oportunidades que 99,9% não têm é injusto. Eles não olham a realidade, eles só olham o espelho.
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