segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O desastre do PT em Minas

O pior resultado eleitoral do PT, ontem, foi provavelmente em Belo Horizonte. O tucano Anastasia foi eleito governador com mais de 62% dos votos válidos; Hélio Costa, do PMDB, que nas primeiras pesquisas aparecia como favorito, com mais de 40% dos votos, caiu para 34%. A eleição foi decidida no primeiro turno. Dilma venceu no estado, como rigorosamente o mesmo índice nacional (46,9%), mas na capital quem ficou em primeiro lugar foi Marina, do PV, com 39,8% (Dilma, 30,9% e Serra, 27,7%).

Além de não conquistar o governo estadual, o PT não conseguiu eleger os candidatos da coligação ao Senado e fez pequenas bancadas federal e estadual.

Há dois anos, o PT administrava Belo Horizonte, pelo quarto mandato consecutivo, além de várias prefeituras importantes no interior, e mantinha boas relações com o governo estadual. Hoje, a prefeitura está nas mãos de um aliado do governador, que foi reeleito. Pela segunda eleição consecutiva, o PT não apresentou candidato ao cargo titular, ficou com o vice. E mesmo assim perdeu a eleição.

Em 2008, foi diferente: sua chapa venceu, mas foi uma vitória de Pirro, como se viu depois, pois o "sacrifício" se justificaria em nome de conquistar, este ano, o governo estadual. O PT assumiu uma posição subalterna na prefeitura e perdeu força no estado.

O mais curioso de tudo é que essa decadência não se deveu a más administrações. Recordemos: há dois anos, o então prefeito Fernando Pimentel tinha excelente avaliação popular. Tinha grande chance de eleger seu sucessor (ele já exercera dois mandatos consecutivos) e atingir duas décadas de administração petista em Belo Horizonte.

Enganado pela soberba e pela ambição política, fez, porém, um estranho acordo com o governador tucano Aécio Neves, cujos termos nunca ficaram claros. O fato é que o PT abriu mão de disputar a prefeitura com candidato próprio e contentou-se em indicador o candidato a vice na chapa apoiada pelo governador. Isso teria sido feito em nome da unidade em Minas, a favor da população, que só teria a ganhar. O que se imaginou na época era que Pimentel seria candidato a governador, este ano, e teria apoio do governador. Em troca, Pimentel daria ainda apoio ao tucano, candidato a presidente.

Nada disso aconteceu: Aécio não conseguiu a indicação do seu partido à Presidência, Pimentel venceu Patrus Ananias nas prévias internas do PT, mas teve de se curvar à decisão nacional de não lançar candidatura própria ao governo de Minas e se contentar com a indicação do candidato a vice do aliado PMDB. Esse vice foi Patrus, ficando Pimentel com a candidatura ao Senado, mesmo cargo disputado por Aécio.

Isso não teria importância, pois havia duas vagas em disputa, mas Aécio abraçou mais uma candidatura, a do ex-presidente Itamar Franco, do PPS. Pimentel viu então seu aliado Aécio e seu apaniguado Lacerda fazendo campanha contra sua eleição, no palanque adversário. Como se diz na linguagem popular, Pimentel armou e se deu mal.

Esse caminho de ambição e traição, ascensão e queda de Pimentel, não trouxeram ganhos à sua carreira política, mas deram muito mais prejuízos ao PT e à esquerda mineira. Para tentar alcançar seu objetivo de ser governador de Minas, o ex-prefeito fez filiações em massa no seu partido, segundo denúncias de adversários internos, de forma a conquistar a maioria nos diretórios municipal e estadual. Isso desgastou e dividiu o partido e enfraqueceu a militância, que pouco participou da eleição do diretório e da prévia. Houve até mesmo denúncias de fraudes.

A imposição pela direção nacional da candidatura de Hélio Costa, além se mostrar eleitoralmente desastrosa, colaborou ainda mais para desmotivar a militância, que pouco se engajou na campanha eleitoral. Prova disso é que um ex-ministro de Lula e ex-candidato a governador na eleição passada, quando obteve 2,1 milhões de votos, não conseguiu nesta eleição os cerca de 80 mil votos que o levariam à Câmara dos Deputados.

Depois desta eleição, o PT mineiro precisa começar outra vez, praticamente do zero, precisa se reinventar numa cidade que é dirigida pelos PSDB e seu aliado PSB e cujo eleitorado demonstrou preferência pelo PV. Quais são as novas lideranças do PT? Quem poderá ser o novo Patrus Ananias, que há 18 anos começou a escrever a história da esquerda na capital, derrotando a velha direita (Maurício Campos) e a nova direita (Aécio Neves)?

Talvez não exista um novo Patrus, talvez a missão de recomeçar caiba novamente a ele. Como última reserva do PT mineiro, talvez em 2012, Patrus tenha se sacrificar e disputar novamente a prefeitura de Belo Horizonte, para retomar o que começou e Pimentel liquidou.

Antes disso, porém, temos o segundo turno. Dilma, que venceu em Minas no primeiro turno, precisa repetir esse resultado no segundo turno. Precisa herdar os votos de Marina e impor aos demotucanos uma forte derrota no estado. Minas precisa confirmar que está com Aécio, mas não está com Serra, que não está com Hélio, mas está com Dilma. Certamente, os derrotados Hélio Costa e Pimentel que conseguirão isso. Patrus, porém, que entrou na campanha com a humildade de quem sabia que deveria ser o titular e a dignidade de quem não tem ambições pessoais, poderá pedir votos mais uma vez de cabeça erguida.

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