segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Os independentes e a derrota do protofascismo brasileiro

Daqui a alguns anos, poderemos olhar para trás e dizer: como o Brasil melhorou! Como este país avançou! E a gente, que se acostuma com o que é bom, talvez nem tenha se dado conta disso enquanto acontecia, mas quem viveu os anos sofridos da ditadura militar, as incertezas do governo Sarney, os sobressaltos do governo Collor e as decepções do governo FHC, saberá reconhecer a diferença. No entanto, recordaremos, houve um momento em que este avanço do Brasil para se tornar uma grande nação democrática correu risco. Foi quando a direita, enfraquecida por falta de apoio popular, apelou para campanhas difamatórias e, com apoio da velha mídia, que ela controlava, flertou com o fascismo.

A derrota dos protofascistas brasileiros (conforme os define a filósofa Marilena Chauí) personificados na candidatura de José Serra à Presidência da República, em 2010, se deveu à bravura de uma parcela considerável de políticos de esquerda, mas principalmente à mobilização cívica das classes populares. A maioria da população soube distinguir interesses e ideologias, soube resistir à campanha insidiosa da Rede Globo, da revista Veja, dos jornais Folha, Estadão e Globo, soube desprezar a opinião de jornalistas e artistas cooptados pelo embrião fascista da direita brasileira. Graças ao discernimento da maioria da população brasileira, a serpente morreu no ovo. A democracia recebeu seu batismo de foto e venceu, ao contrário do que tinha acontecido em 1964. Uma vitória para se orgulhar.

Antigos líderes políticos e militantes "independentes" talvez lamentem sua decisão. Quem sabe alguns deles reconheçam seu equívoco? A neutralidade é um erro político clássico na História. Suas consequências podem ser castatróficas. Foi a indecisão de parte da esquerda que permitiu o avanço do nazi-fascismo, no começo do século XX. Felizmente, os "independentes" no Brasil, em 2010, estreavam na política, eram incapazes de imobilizar grande parcela da população. Em função da sua atitude, nunca foram além daquele resultado eleitoral no primeiro turno, que quase atingiu 20%.

Foi esse resultado surpreendente talvez o responsável pela posição equivocada assumida por eles. Julgaram-se mais fortes do que eram, consideraram-se mais importantes do que seus eleitores. Sim, porque qualquer partido tem responsabilidade sobre seus eleitores, e essa responsabilidade se traduz em dizer a eles qual as duas forças restantes em disputa ele prefere. Porque a disputa se dará, querendo ou não os derrotados. Seus eleitores votarão novamente e escolherão um candidato. Um dos dois candidatos será eleito. O partido derrotado no primeiro turno que se compromete no segundo turno está indicando um caminho ao seu eleitor, e poderá ser cobrado por isso depois, seja errando, seja acertando na escolha.

O partido "independente" está dizendo ao leitor que tanto faz um candidato ou outro, que o único que merece o voto é ele, que seu futuro será o mesmo, seja com um seja com outro. E isso não é verdade. É raro o momento na história em que tanto faz. Até durante a ditadura, havia escolha entre Arena e MDB. Mesmo entre dois partidos de direita há um pior e um menos pior. O que dizer então quando a disputa se dá nitidamente entre um partido cujo governo recebe aprovação de 81% da população e outro que representa as elites, especialmente as elites que controlam a comunicação? Como dizer que não faz diferença a eleição de uma candidata que faz campanha limpa, apresentando resultados do governo e propostas para o futuro, ou de um candidato que faz promessas que não cumprirá e, principalmente, apela para métodos protofascistas?

Faz diferença, inclusive para os "independentes". Eles verão isso e terão motivos fortes para se arrepender. Felizmente, graças ao discernimento da maioria da população, à bravura dos políticos de esquerda e à mobilização civica de um exército de militantes – dos quais uma das principais armas contra a velha mídia é esta aqui, a nova mídia, democrática e acessível a todos –, graças, enfim, àqueles que souberam escolher o lado certo, os "independentes" não terão de se arrepender do pior: terem colaborado para a ascensão do fascismo.

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