sábado, 9 de outubro de 2010

O PT e a conquista dos eleitores da Marina

O assunto da semana foi Marina. O raciocínio que orientou o noticiário político é lógico: Dilma não venceu no primeiro turno, ao contrário do que indicavam as pesquisas; o desempenho de Marina superou as expectativas, e ela teve mais de 19% dos votos válidos (em Belo Horizonte conseguiu a proeza de ficar em primeiro lugar); esses votos serão decisivos no segundo turno, o apoio da candidata verde merece toda atenção. Discordo desse enfoque e, considerando a visita de Dilma a Belo Horizonte quarta-feira passada, suponho que o comando da campanha do PT também. O que importa não é conquistar Marina e seu partido, mas seus eleitores.

Na verdade, a lógica eleitoral é outra. Se candidato e eleitores se identificassem de forma tão completa, os 80% que aprovam Lula teriam votado em Dilma, no primeiro turno. A transferência não é automática: se Marina vier a apoiar Dilma não passará seus 20 milhões de votos para a candidata do PT. Tampouco se a cúpula do PV confirmar apoio a Serra – como anunciou o presidente do partido, José Luiz Penna, antes mesmo do primeiro turno – irá transferir para ele os votos obtidos no dia 3 de outubro.

Vinte milhões de brasileiros escolheram Marina no primeiro turno. Por vários motivos, eles a consideraram a melhor candidata. No segundo turno, porém, ela não estará presente. Mais do que para qualquer eleitor, para o eleitor de Marina Silva, o segundo turno é outra eleição, ele terá de optar entre Dilma e Serra. Ou votar nulo, como já disseram alguns. A parte que cabe a Marina e ao PV no assunto é: quanto eles conseguirão influenciar nessa escolha?

O PV é um balaio de gatos e hienas, congrega desde ambientalistas até políticos oportunistas que buscam uma legenda simpática para se abrigarem. As dissenções explicitadas esta semana na ânsia com que dirigentes negociam cargos no possível governo Serra mostram isso. Não se pode dizer que o PV seja controlado pelos militantes da causa ecológica. Em Minas, por exemplo, o megaempresário Vitório Medioli, dono da Sada transportadora e de outras empresas, além dos jornais Super, O Tempo e Pampulha, ex-deputado federal tucano por quatro legislaturas (1991-2007), inimigo ferrenho do PT, ingressou no PV em 2005 e disputou a prefeitura de Betim, em 2008, como candidato a vice-prefeito. Perdeu.

Marina representa o que o PV tem de melhor. Ela é também muito maior do que seu partido, assim como Lula é maior do que o PT. Sem Marina, o PV encolhe a um décimo, como aconteceu na eleição para governador em Minas, em que o candidato verde José Fernando teve 2,4% dos votos válidos. Foi o Movimento Marina Silva, muito mais do que o PV que, nesta eleição, congregou ambientalistas e simpatizantes de uma "terceira via". Não à toa, a ex-candidata sustenta que também eles devem participar da decisão sobre o segundo turno, com o que não concordam os dirigentes verdes. Na Executiva do partido, segundo informou a Folha de S.Paulo, Marina – que fez carreira política no PT e só se filiou ao PV em 2009 – tem apenas 10 dos 60 votos.

Se o PV é muito menor do que Marina, tampouco a liderança da candidata verde está consolidada. Esta foi sua primeira eleição para presidente. Muitos consideram que ela capitalizou o voto de protesto de uma parcela da população que não gosta do PSDB e se desiludiu com o PT. Pode ser o caso de Belo Horizonte, cidade em que, há dois anos, o PT jogou no lixo seu capital político, ao entregar o governo, depois de quatro mandatos, para um aliado do governador tucano Aécio Neves, num acordo político até hoje nebuloso. Marina foi a preferida dos belo-horizontinos, conquistando aqui 39,88% dos votos válidos, superando Dilma (30,92%) e Serra (27,73%).

A votação no estado, diferentemente, ficou bem próxima do resultado nacional, o que é comum: o mineiro é tradicionalmente uma espécie de média brasileira. Em Minas, Dilma ficou em primeiro, com 46,98%; Serra ficou em segundo, com 30,76%, e Marina, em terceiro, com 21,25%. Prevaleceu no estado o voto Dilmasia, que deu a vitória no primeiro turno ao governador Antônio Anastasia, reeleito com 62,72%.

O que os números indicam, mais do que a surpreendente popularidade de Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima, em Minas como no Brasil, é que parcela significativa de eleitores busca um novo caminho. Em Belo Horizonte esta parcela é o dobro. Por isso, em vez de esperar o apoio de Marina, Dilma fez muito bem em retomar sua campanha no segundo turno na nossa cidade. Afinal, ela nasceu e tem raízes aqui. A candidata do PT precisa convencer os 560.037 belo-horizontinos eleitores de Marina que votar nela é uma opção melhor do que votar nulo ou em Serra.

Sua tarefa não é fácil: os errantes eleitores da capital deram ao governador tucano votação acachapante: 71,48%, bem superior à média do estado. A favor de Dilma pode-se dizer que esses votos também não serão transferidos automaticamente para o candidato tucano, como não o foram no primeiro turno; de certa forma, Anastasia, a exemplo de Aécio, nunca se apresentou como inimigo de Lula, como fizeram Serra e os tucanos paulistas. Anastasia representa a continuação tanto quanto Dilma.

Os melhores quadros petistas devem se engajar nessa campanha como nos velhos tempos. Têm motivos de sobra para isso: em Belo Horizonte, no segundo turno desta eleição presidencial, está começando a eleição para prefeito de 2012. Reverter o resultado do primeiro turno pode ser um passo importante para o renascimento do PT belo-horizontino.

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