quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Livros e filmes: A bolha e o piropo

A pretexto de mostrar a insustentável vida em Tel Aviv, capital de Israel, o diretor Eytan Fox fez um belo filme de amor homossexual, que se tornou sucesso de bilheteria. Há alguma coisa de selvagem no amor entre dois homens que os heterossexuais não entendem. Assim como existe uma delicadeza incompreensível no amor entre duas mulheres. São justamente essa selvageria e essa delicadeza que tornam o amor “um jogo difícil de acertar”, como diz o samba. O homem se queixa das frescuras femininas, a mulher se queixa do machismo. Ou: o marido reclama da falta de interesse sexual da mulher e a mulher, da falta de carinho do homem. Essas diferenças se resolvem na paixão, quando, por algum tempo, homem e mulher parecem falar a mesma língua: o homem fica delicado como uma moça, a mulher fica disponível como um rapaz. Mas a paixão passa. O que faz duradouro um relacionamento são outras coisas. Alguém pode dizer: o amor. Muitos relacionamentos duradouros, porém, não têm amor. No amor, homem e mulher falam línguas diferentes. Por isso dois homossexuais se compreendem tão bem, falando a mesma língua. Duas lésbicas também, falando outra língua. A dificuldade do relacionamento heterossexual está em a mulher compreender a língua do homem e o homem compreender a língua da mulher. O homem que compreende a mulher é um Dom Juan, a mulher que compreende o homem é uma libertina (embora o donjuanismo seja criticado, tem certo charme, enquanto figuras como Lilith, Safo e Messalina só evocam reprovação). A motivação do amor heterossexual é o fascínio que o sexo oposto exerce sobre homens e mulheres. O mistério que provoca encantamento é o mesmo que torna a relação difícil. Que ninguém tome isso como uma análise psicológica. No fundo, é apenas um piropo. Ah se as mulheres, além de nos encantar, nos compreendessem!

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