quinta-feira, 11 de novembro de 2010

José Bonifácio, Dom Pedro I e a história

Terminando a leitura de um livro despretensioso, porém muito bom, de um desconhecido Pedro Pereira da Silva Costa, parte de uma coleção sobre grandes personagens da nossa história, esse sobre José Bonifácio, fico pensando que há forças que vão além dos homens. Não sei que forças são essas, mas sinto que elas existem. Se o homem que fez a independência e se fez imperador, que fechou a constituinte e deu a primeira Constituição ao Brasil, que criou o poder Moderador, que se impõe a todos os outros, se esse homem não foi capaz de se manter no poder, não pôde fazer o que quis, então quem há de? Se o homem que influenciou o futuro imperador, que arquitetou a independência e teve o maior poder do reino, depois do imperador, um homem que foi um grande intelectual, com personalidade fortíssima e moderado nas aspirações políticas, mas radical nos princípios, se esse homem também foi apeado do poder e mais de uma vez, então quem será capaz de governar?

Se olhamos a fundação do Brasil, esses dois homens se sobressaem a todos os outros, muito acima. No entanto, eles não prevaleceram, senão durante algum tempo. Será isso o poder, uma ciranda, que eleva homens e os derruba depois, incessantemente? Será unicamente por isso, porque quem está embaixo quer subir e quem está em cima tem de cair? Foram dois grandes homens e no entanto morreram ambos sem realizar o que queriam, sem o poder que almejaram e que seria necessário ter para influenciar os acontecimentos como pretendiam fazê-lo. Foram dois homens que fizeram mais do que qualquer um do seu tempo no seu meio, no entanto... Qual é a força, quais são as forças que se impõem aos homens além da força da sua vontade? Será que existe, como quer Marx, a eterna luta de classes, uma força que faz a história seguir seu curso misterioso?

Dom Pedro é mais importante do que Bonifácio, apesar da superioridade intelectual deste e da sua influência sobre o primeiro, porque é sempre o autor dos fatos, está à frente deles e sucede a Bonifácio no poder, afasta sua influência, embora, ao final lhe conceda a tutoria dos filhos, do futuro imperador. Mas Bonifácio é incapaz de manter o que seria a posição mais importante do império: o homem que vai formar o futuro imperador. Dom Pedro é quem conduz, ninguém está acima dele, devemos encarar Bonifácio como uma influência, talvez a mais importante, decisiva num momento crucial, mas uma influência – e Dom Pedro teve outras, inclusive a da amante, além de outros políticos.

Quem quer entender a independência deve acompanhar os passos de Dom Pedro e as influências que recebe, a de Bonifácio, principalmente, talvez, mas também outras. Há influências que não precisam ser encarnadas: o que é do desejo do imperador?, do seu temperamento?, da sua formação (Bonifácio encontra-o adulto), das suas fraquezas?, das suas ilusões?

Que dizer de Bonifácio? Que foi um grande intelectual, formado na Europa, onde passou cerca de trinta anos, e que voltou à terra natal sonhando com a independência e a fundação da pátria, como uma grande nação moderna. Que tinha gênio forte, franco, honesto e leal, que não abria mão das suas idéias, que foi avançado para seu tempo (ou será o Brasil que se atrasou muito? Tendo a ver assim, pois a Inconfidência Mineira e outras conjurações também levantaram bandeiras progressistas que ficaram guardadas por mais de século).

Não terá sido um gênio; embora aqueles que conviveram intimamente com ele lhe tivessem reconhecimento (como o próprio Dom Pedro I), embora o povo o reconhecesse na sua época como grande personalidade, votando nele quando estava no exílio, não foi certamente isento de defeitos. Defeitos, pode-se até dizer, conseqüentes das suas qualidades. Como por exemplo, pretender impor ao império seu cunho muito pessoal, mesmo em atritos com outros, criando inimizades, despeitos, invejas, ressentimentos.

Não era político habilidoso, não transigia, parece. Talvez não fosse possível mesmo transigir no que não queria transigir, talvez fosse apenas a ilusão do poder. Bonifácio e seus irmãos não se prendiam a bandeiras fáceis. Por exemplo: defender a restauração, no começo da Regência, eles que tinham sido presos e exilados por Dom Pedro!

A enciclopédia informa que Antônio Carlos e Martim Francisco, depois da morte do irmão, em 38, defendem a bandeira da Maioridade de Dom Pedro II, triunfante em 1840; foram ministros do Império, nos seus últimos anos de vida (o último morreu em 44, o primeiro em 45).

Os irmãos Andrada (segue-lhes José Bonifácio, o moço, filho de Martin Francisco e também ministro do Império) devem ser agrupados como fundadores da nação, sendo os dois menos famosos mais brasileiros, isto é, viveram mais aqui e se enfronharam mais na vida nacional, como políticos. Aparentemente, Antônio Carlos era o mais radical, grande orador, autor do projeto de Constituição, em 23, que Dom Pedro I adotou com alterações, em 24. Martim Francisco foi ministro da Fazenda do primeiro imperador e também do segundo.

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