O primeiro livro da série sobre a ditadura militar, do Elio Gaspari (na grafia de nomes, ele segue, em geral, a regra do seu próprio: não põe acentos), é um livro fundamental. Livros fundamentais são aqueles que mudam a forma como a gente vê o mundo: Crime e Castigo, por exemplo, quando o li, aos dezessete ou dezoito anos. Trata-se de uma tetralogia ou mais que isso, com o nome genérico "O sacerdote (Geisel) e o feiticeiro (Golbery)"; não pretende contar a história da ditadura militar (1964-1985), apenas reconstituir como a dupla citada entrou e saiu dessa aventura, como os dois criaram o regime militar e como acabaram com ele. Eu já havia lido o terceiro livro, "A ditadura derrotada", mas não me impressionou como esse.
Por que é um livro fundamental? Porque, ao reconstruir o golpe militar e a gradativa radicalização do regime, com riqueza de detalhes jornalísticos e sob vários pontos de vista, a partir dos arquivos de Golbery e Geisel, e centenas de entrevistas, ele nos dá uma visão nova da história do período.
Ao contrário das visões ideológicas, tanto de direita quanto de esquerda (várias de uma e de outra), o que aconteceu no Brasil sob o comando militar foi uma bagunça. O País era já uma bagunça antes, sob o governo Jango, mas a bagunça armada, dos militares, foi muito pior, porque muito mais violenta. A radicalização, ao contrário do que pensa que cresceu na noite da ditadura, foi um desejo da esquerda tanto quanto da direita. Entre 64 e 68, ao mesmo tempo em que as regras civilizadas de convivência política na nação foram quebradas, uma direita sem controle do governo e uma esquerda desacreditada da luta política e incentivada pelo castrismo, partiram para a luta armada.
Obviamente, a esquerda, sem o aparato do Estado e menos numerosa, perdeu. Perdeu a guerra e em grande parte a vida. Eram principalmente militares de baixas patentes (soldados, cabos, sargentos e um ou outro oficial) colocados na marginalidade pelo regime militar e jovens de classe média e alta, em geral universitários, que haviam liderado o movimento estudantil. Além de outros segmentos, como padres dominicanos e integrantes da esquerda católica.
A ditadura foi uma bagunça, assim como o fora antes o governo populista. O que impressiona é quão pouco ideológicas foram as ações da ditadura, como interesses particulares e instintos primitivos prevaleceram, aterrorizando o País. Ao mesmo tempo, como foram românticos os revolucionários esquerdistas (tanto um lado como o outro se denominavam "revolucionários", embora não tenha havido revolução nenhuma, nem de esquerda nem de direita), dispostos a morrer pela causa, sendo presos e torturados, assassinados como moscas. Do romantismo esquerdista, é bom que se diga, fazia parte matar inimigos e até inocentes, chegando ao extremo de "justiçar" os próprios companheiros sobre os quais pairavam dúvidas. Enfim, é um período negro da história do Brasil, da qual não ficou nada de bom, sobre a qual não há nada a aproveitar. O conhecimento que vem da leitura do livro mostra como um povo entrou num inferno, do qual os sobreviventes saíram piores do que eram.
Ao contrário das visões ideológicas, tanto de direita quanto de esquerda (várias de uma e de outra), o que aconteceu no Brasil sob o comando militar foi uma bagunça. O País era já uma bagunça antes, sob o governo Jango, mas a bagunça armada, dos militares, foi muito pior, porque muito mais violenta. A radicalização, ao contrário do que pensa que cresceu na noite da ditadura, foi um desejo da esquerda tanto quanto da direita. Entre 64 e 68, ao mesmo tempo em que as regras civilizadas de convivência política na nação foram quebradas, uma direita sem controle do governo e uma esquerda desacreditada da luta política e incentivada pelo castrismo, partiram para a luta armada.
Obviamente, a esquerda, sem o aparato do Estado e menos numerosa, perdeu. Perdeu a guerra e em grande parte a vida. Eram principalmente militares de baixas patentes (soldados, cabos, sargentos e um ou outro oficial) colocados na marginalidade pelo regime militar e jovens de classe média e alta, em geral universitários, que haviam liderado o movimento estudantil. Além de outros segmentos, como padres dominicanos e integrantes da esquerda católica.
A ditadura foi uma bagunça, assim como o fora antes o governo populista. O que impressiona é quão pouco ideológicas foram as ações da ditadura, como interesses particulares e instintos primitivos prevaleceram, aterrorizando o País. Ao mesmo tempo, como foram românticos os revolucionários esquerdistas (tanto um lado como o outro se denominavam "revolucionários", embora não tenha havido revolução nenhuma, nem de esquerda nem de direita), dispostos a morrer pela causa, sendo presos e torturados, assassinados como moscas. Do romantismo esquerdista, é bom que se diga, fazia parte matar inimigos e até inocentes, chegando ao extremo de "justiçar" os próprios companheiros sobre os quais pairavam dúvidas. Enfim, é um período negro da história do Brasil, da qual não ficou nada de bom, sobre a qual não há nada a aproveitar. O conhecimento que vem da leitura do livro mostra como um povo entrou num inferno, do qual os sobreviventes saíram piores do que eram.
Não é à toa que a violência dos traficantes campeia, sem controle do Estado; não é à toa que os políticos de esquerda que chegaram ao poder desde 1985 traíram e continuam traindo seus eleitores, dedicados a governar para si e para os seus. A ditadura tornou o País ainda mais amoral do que era. Nós, brasileiros, somos ruins, muito ruins.
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