quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Transporte coletivo rápido em toda a cidade!

A notícia é do gabinete da presidente da Câmara Municipal, vereadora Luiz Ferreira (PPS): a prefeitura assinou convênio com o Embarq (Centro de Transporte Sustentável do Instituto de Recursos Mundiais) para começar a implantação do ônibus rápido (BRT). Embarq é uma ONG multinacional cujo trabalho é oferecer soluções de transporte sustentáveis. A notícia não diz, mas a página da ONG informa que o convênio é para troca de experiências, ou seja, transferência de tecnologia. Substituir o carro é ótimo, transporte sustentável também, coletivo rápido é melhor ainda, mas eu fico pensando na solução óbvia, que qualquer morador vê, sem precisar pertencer a uma ONG multinacional.

Penso também nessas urgências repentinas e na sua motivação, a Copa do Mundo de 2014. A prefeitura precisa de um acontecimento de origem externa para investir em transporte coletivo de qualidade, não para os moradores, mas para os turistas. Isso já provoca preocupação: quando não tiver mais turista da Copa do Mundo (serão tantos assim?), o transporte coletivo de Belo Horizonte poderá voltar a ser péssimo...

E a solução, o tal BRT? Vai contemplar três corredores de trânsito: Cristiano Machado, Pedro II-Carlos Luz e Antônio Carlos-Pedro I. O primeiro e parte do terceiro deverão estar prontos em março e outubro de 2012, respectivamente – a tempo, portanto, da eleição municipal; os demais só em 2013.

Nada contra o BRT, solução muito mais simples e barata do que o metrô, mas três corredores não resolvem o problema da cidade, que tem dezenas de avenidas que se transformaram em "corredores" de transporte. Todas precisam da solução rápida.Tenho outra pergunta: como ficarão as linhas atuais? Todo o sistema de transporte rodoviário da capital será mudado? Criar corredor de BRT só aumentará o número de veículos em circulação, se as demais linhas não forem eliminadas.

O problema do trânsito nas cidades vem do excesso de veículos, em primeiro lugar, de carros, situação que não é enfrentada, ao contrário, é estimulada porque a indústria automobilística é "o motor da economia" (junto com a indústria de edifícios e as monoculturas, as três pragas que deterioram o ambiente, na cidade e no campo). As soluções do metrô e do BRT visam a oferecer boas condições de transporte coletivo, como a dizer para a população: compre carro e fique confortavelmente engarrafado; se quiser andar depressa, pegue o transporte coletivo.

Mas o excesso de ônibus também é um problema. Qualquer observador vê que durante a maior parte do dia os coletivos de Belo Horizonte rodam vazios. No entanto, são muitos, e rodam um atrás do outro, um do lado de outro, um cruzando o outro. Para que tanta linha de ônibus? Por que dezenas de linhas têm de percorrer a Avenida Afonso Pena? Por que dezenas de linhas têm de passar na região hospitalar, na Avenida Amazonas, na Antônio Carlos, na Cristiano Machado, na Nossa Senhora do Carmo, na Afonso Pena, na Contorno, na Praça da Liberdade, na Praça 7? A lógica do sistema está errada e isso qualquer um pode ver.

Belo Horizonte já teve uma linha de ônibus, a Avenida, que seguia apenas pela Afonso Pena, e era muito útil. Um ônibus atrás do outro. Não precisa de "corredor". Já teve outra linha, a Circular Contorno, também ótima e também não precisava de "corredor". Ainda tem essas linhas, mas elas se confundem entre inúmeras que passam nas duas avenidas. A questão é: pra que outras linhas nessas avenidas?

O mesmo se pode dizer dos demais "corredores". Se tivéssemos em cada avenida uma única linha de ônibus, teríamos corredores. A questão é integrar as linhas, de forma que o usuário possa se locomover na cidade toda, trocando uma linha por outra. Nos bairros, em vias mais estreitas, menores e para número inferior de usuários, micro-ônibus.

Qual a dificuldade de se fazer isso? Por que os doutores da BHTrans não veem isso? Por que é preciso trazer uma sofisticada organização estrangeira para "transferir tecnologia" (quanto custa essa "tecnologia"? A notícia não diz). No entanto, é tão óbvio quanto a vocação cultural do conjunto arquitetônico da Praça da Liberdade, que muitos moradores perceberam décadas atrás. Os administradores públicos levaram muito tempo para ver, e quando agiram o fizeram de forma lenta (já se vão mais de cinco anos), equivocada (transferência para a iniciativa privada) e tímida (também o Palácio e as ruas laterais da praça precisam ser incorporados ao projeto). Mas com muita propaganda.

Enquanto governadores e prefeitos fazem propaganda de suas obras medíocres, os moradores continuam esperando as soluções óbvias para os problemas cada vez mais graves.

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