Uma frase ouvida numa palestra me ficou para sempre na cabeça: “Não adianta ficar em casa olhando para o seu filho, que você não vai vê-lo crescer”. O palestrante, que falava num desses ciclos para empregados de uma grande empresa, (realizados com objetivo de motivar e envolver o trabalhador nas estratégias corporativas), muito comuns na era Collor-FHC, queria dizer que o fundamental para o profissional moderno é se dedicar integralmente ao aprimoramento profissional e à empresa na qual trabalha. “Têm pessoas que não se adaptam a esse novo mundo corporativo”, advertia. Sempre quando paro para observar minhas filhas pequenas lembro-me dessa frase. Tenho impressão que o palestrante daquela tarde, que disse que os pais não veem os filhos crescer, por mais que se esforcem, realmente acreditava nisso porque não tinha ideia do que dizia. Ver o filho crescer não é o que as palavras dizem literalmente e fez rir a plateia do ilustre enebieiista, confortada talvez da angústia de estar longe do lar. Minhas filhas crescendo é um processo que está documentado na memória (mais na da Vanessa do que na minha, confesso) e em muitas fotografias tiradas ao longo dos anos – tanto das filhas hoje adultas quanto das pequenas. Agora, por exemplo, quando Alice e Isabel viam mais um capítulo de O Sítio do Picapau Amarelo, atentas, hipnotizadas, uma com o dedo na boca, outra carregando uma boneca. Ver os filhos crescendo é estar por perto deles para observar o que fazem, como brincam, seu comportamento, suas descobertas, compartilhar suas alegrias e perplexidades, seus aprendizados. Estar por perto atento, atencioso. Apesar da armadilha risível do palestrante (acredito que aqueles profissionais presentes que sabiam o que significa ver os filhos crescendo não se deixaram pegar por ela), gostei muito daquela palestra. Ela me ensinou muito sobre a ideologia dos anos 90, sobre os valores que orientaram e ainda orientam o neoliberalismo do mundo moderno, que ainda agora reprimido não foi extinto.
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