1-Os melhores álbuns de música popular
Milton Nascimento / Lô Borges - Clube da Esquina
Justificativa
Alguns artistas têm um grande disco, um momento na carreira em que se mostram gênios. É quase como se não devessem ter feito outra coisa, para que nos lembrássemos deles apenas em seus momentos mágicos. Como Caymmi, que levava nove anos para terminar uma canção e a finalização podia ser apenas uma frase. Um desses discos geniais, que fazem parte da história da Música Popular Brasileira, é Clube da Esquina.
Embora traga os nomes de Milton Nascimento (em primeiro plano), e Lô Borges na capa, o disco – na verdade dois, porque é um álbum duplo – é o produto coletivo de um grupo de jovens músicos mineiros, que se encontraram para compor, tocar, cantar e gravar num momento de grande criatividade. O resultado foi um álbum que, quarenta anos depois, continua influenciando músicos em todas as partes do mundo graças à qualidade duradoura do seu som. Nada mais mineiro, no entanto, do que a música universal do Clube da Esquina.
Ouvir este grande disco com ouvidos atentos e conhecer um pouco dos bastidores da sua criação são os objetivos deste programa.
Sinopse
Clube da Esquina flui do começo ao fim do programa despertando os prazeres dos grandes discos. Com base em entrevistas com os artistas participantes, o documentário revela as condições de realização e chama atenção para os detalhes das melodias, letras, vozes e instrumentos do álbum, como o maravilhoso o arranjo em Clube da esquina n° 2, assinado por Eumir Deodato.
Quem, no Brasil, conhece Deodato? Os americanos e europeus o conhecem bem. Basta citar que é seu o arranjo do grande sucesso Killing me softly, da cantora americana Roberta Flack. Aquela versão popular do erudito Assim falava Zarastustra, de Richard Strauss, que ficou famosa, também é dele. Quem se der ao trabalho de conferir os créditos de discos da cantora Björk vai encontrar o nome do arranjador brasileiro. Isto para ficar em apenas três exemplos do sucesso desse colecionador de discos de platina que trabalhou com as maiores estrelas internacionais e fez as trilhas de alguns dos maiores sucessos de Hollywood. Tudo isso depois de elaborar os arranjos de Clube da Esquina.
Assim como Deodato, o álbum tem um numeroso time de artistas hoje reconhecidos mundialmente: Tavito, Wagner Tiso, Beto Guedes, Toninho Horta, Robertinho Silva, Luiz Alves, Rubinho, Nelson Ângelo, Paulo Moura, Paulinho Braga, Luiz Gonzaga Jr., Alaíde Costa, além dos letristas Márcio Borges, Ronaldo Bastos, Fernando Brant e Murilo Antunes. Embora não fossem anônimos em 1972, foi o álbum Clube da Esquina que impulsionou suas carreiras. Toninho Horta tornou-se um importante músico de jazz, com sucesso no Japão e nos EUA.
Milton é um caso à parte, fez carreira internacional, cantando e tocando com os maiores nomes da música popular. Em Clube da Esquina, sua voz é o ponto mais alto entre cumes musicais. Sobre ela nada que se diga é bastante, é sublime como devem ser as vozes dos deuses. E em todas as canções unem-se os talentos virtuosos de músicos e cantores compondo um conjunto harmonioso.
Na faixa Trem de doido, a guitarra de Beto Guedes se equipara à de Eric Clapton, então chamado de deus, por seus fãs. A bateria de Rubinho tem rara suavidade em San Vicente, assim como a bateria de Robertinho Silva em O trem azul bate no coração, tanto quanto batia a de Ringo Starr. É inesquecível o violão de Lô Borges em Tudo que você podia ser, assim como o órgão de Wagner Tiso em Um girassol da cor do seu cabelo. Os coros são deliciosos e até mesmo a voz limitada de Lô é gigantescamente agradável. Que beleza o solo de Alaíde Costa em Me deixa em paz! (que tem ainda o baixo de Luiz Alves).
2- Quando penso em você, fecho os olhos de saudade
Justificativa
No começo dos anos 70 a maioria da população das cidades brasileiras ainda morava em casas. A ditadura militar, então no auge, mantinha sob censura prévia a imprensa e televisão. A atmosfera na sociedade e nas escolas era de repressão e autoritarismo, e a juventude encontrava na música a sua válvula de escape. Era comum turmas de jovens cabeludos, trajando roupas coloridas, se reunirem em terreiros, varandas, terraços e esquinas para conversar, namorar e cantar. Eram vizinhos, colegas de escola, amigos; muitos tocavam violão, alguns se exercitavam em outros instrumentos, todos cantavam. Dessa forma, nasceram alguns grupos de vida curta e começaram carreira cantores, instrumentistas e compositores que conheceram sucesso local. É este o caso do Ingazeira, um conjunto de música popular que atuou em Belo Horizonte, cuja trajetoria – breve mas importante trajetória para os jovens daquela época – este programa pretende mostrar, rememorando um período da história recente do Brasil.
Sinopse
Quando penso em você... traz no nome uma referência à canção Canteiros, um dos primeiros sucessos do cantor e compositor Fagner, com melodia composta sobre poesia de Cecília Meireles. Ela era também uma das preferidas do grupo Ingazeira, quando se reunia para cantar em companhia de amigos do Bairro Lagoinha, em Belo Horizonte, no começo dos anos 70. O programa reproduz um encontro típico de jovens daquela época, reunindo novamente a turma de amigos. Entre canções que foram sucesso na época, na interpretação do Ingazeira ou de outros artistas, os amigos recordam o ambiente daqueles anos de ditadura militar e histórias da turma, e fazem o balanço dos sonhos que ficaram pelo caminho, nessas mais de três décadas.
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