quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mário Lago

Estou lendo com prazer Mário Lago – Boemia e Política, de Mônica Velloso, não tanto por ele, um sujeito extraordinário, mas não um gênio, como Noel Rosa (centenário de nascimento este ano) e Nelson Rodrigues, mas porque o livro mostra o cenário no qual o artista viveu. As primeiras décadas do século XX foram ricas em transformações sociais e elas estão contadas no livro. Como o surgimento do rádio como veículo de comunicação de massas. Um decreto do presidente Getúlio Vargas autorizou publicidade nas rádios, e o rádio explodiu. O Brasil muda com a Revolução de 30, todos sabemos disso, mas uma coisa é listar fatos sociais, como fazem os livros de história didáticos, e outra é vê-los acontecendo na vida de alguém, como faz Mônica Velloso. Mais do que nunca precisamos conhecer a história, mais do que isso: senti-la, porque o mundo muda numa velocidade alucinante e acelerada, e perdemos a referência do passado. O Rio de Janeiro, capital da República, era outra cidade antes do rádio, o Brasil era outro antes da Revolução de 30. A internet é um fenômeno semelhante, que transforma tudo e torna tudo que existia antes ultrapassado. A televisão vem depois do rádio e antes da internet, cada veículo provoca uma revolução nos costumes. Na minha memória, a televisão é nebuloso, porque o fenômeno da Globo ocorre nos anos da ditadura militar, e isso mancha sua ascensão. Essa overdose de informações do mundo contemporâneo é um processo caótico e extremamente estressante. Nossa ligação com tudo que acontece em todo o mundo e ao mesmo nossa incapacidade de agir minimamente na nossa cidade, no nosso bairro, na nossa rua, no condomínio onde moramos...

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